quarta-feira, 12 de agosto de 2009

A paródia

A paródia é um gênero textual muito popular nos dias de hoje. No entanto, vale a pena esclarecer algumas idéias sobre a mesma. Existe um conceito popular do que seja a paródia e um conceito literário. O primeiro consiste em manter um intertexto superficial com um texto original - muitas vezes músicas, poemas ou textos em prosa - sem, no entanto manter uma ligação com a tematica; isso é percepitivel em paródias feitas por programas de TV, como o Casseta e Planeta, transmitido pela Rede Globo. A funcão dsse tipo de paródia muitas vezes é a mera diversão, sem um aprofundamento e mergulho no nos assuntos discutidos entre os textos em questão. Já a paródia literária, requer um requinte em sua produção. A relação que se estabelece entre esta e o texto original, o intertexto temático, é clara, objetiva, e fundamental para a qualidade da mesma. Nesse tipo de paródia a crítica e a oposição de idéias, em relação ao texto original, são muito comuns; o intertexto temático é o ponto forte. Seguem-se a seguir duas paródias literárias que demonstram o conceito acima exposto:


Texto 01

A formiga e a cigarra (Paródia)


(Parodia da fábula de La Fotaine)


Era uma vez uma formiguinha e uma cigarra que, apesar das diferenças, desde muito pequenas, eram muito amigas. Era outono e a formiga sempre preocupada com a chegada do inverno, porque sabia bem o que acontecia em sua cidade quando chovia muito, decidiu dedicar-se arduamente ao trabalho. A partir daquele dia faria horas extras diárias, venderia suas férias e trabalharia o mais que pudesse, inclusive em serviços extras que poderia desenvolver em casa, tudo isso para garantir um cofre cheio para a temporada de chuvas.


A cigarra, no entanto, pensava diferente, ou melhor, nem pensava em nada além de curtir a vida:

- Qualé mulher!!! Tu tem é que aproveitar o hoje, o agora. Amanhã é outro dia, outra história. Viver um dia de cada vez é a coisa certa a se fazer!

Mas a formiga não pensava assim e mergulhou fundo no trabalho. Depois daquele dia não teve mais tempo para nada e nem para ninguém, seu nome era trabalho, e seu sobre nome era sempre.

Enquanto isso a cigarrinha farreava, não perdia uma festa sequer, bebia todas, contemplava o pôr-do-sol, recebia, ainda acordada, o sol que nascia, visitava os amigos, viajava, enfim, praticava toda a rotina de uma vida solteira e sem compromisso.

Chegado o inverno, a cigarrinha, de casaco de pele caríssimo, de perfume Giorgi Armani e maquiada com Lancome chegou na casa da amiga para se despedir e chocou-se ao encontrar apenas a mamãe formiga a chorar e lamentar-se.

A formiguinha havia sido despedida uma semana após a conversa inicial desta fabulosa fábula. O seu superior na fábrica havia aplicado um golpe na empresa e pusera a culpa na pobre coitada, impondo-lhe uma chantagem. A formiguinha foi demitida por justíssima causa, não recebendo nada, nada, nada de indenização, conforme prega o art. XXX, § 3º, inciso 2º, Linha 201º, Vírgula 30 (ao canto da página) da Lei 1.876/46:

“É dado como justa causa as demissões por ocasião de furto do funcionário para com a empresa e não se fala mais nisso.”

O seu superior (autor do golpe), ficando sensibilizado com a situação da pobre coitada, conseguiu com a presidência da empresa, que lhe fosse liberado o Seguro Desemprego. Saindo da empresa a formiguinha foi então dar entrada no benefício, e durante uma semana ela foi à Caixa Econômica até que encontrou seu nome na folha para receber a bagatela no dia seguinte. Assim, preferiu dormir na porta do Banco para que fosse a primeira a ser atendida. Fez amizade com três senhores, duas mulheres e cinco adolescentes que lá já estavam, todos com o mesmo intuito, porém é grande o coração desse povo brasileiro, e ficaram amigos, quase uma família. Em menos de três horas todos já conheciam as desventuras de todos.

Nessa noite, a formiguinha sofreu uma parada cárdio-respiratória-vascular-intrauterina, que segundo o médico legista, foi causada pelo uso de ácido sulfúrico na fábrica de chapéus em que trabalhava. A sua nova família ainda levou-a ao hospital, na urgência pediram que aguardasse pois o médico plantonista havia saída para jantar e retornaria em uma hora. A pobre formiga não resistiu e veio a falecer.

- Mas e você, Cigarrinha, para onde vai tão bem vestida? – indagou a mãe da finada, esquecendo a dor e adquirindo um certo ar de malícia.

Eu conheci Jorgh Alfred Hilfren na praia, no começo do outono passado e nos apaixonamos logo de cara. Jorgh é muito romântico e, como todo alemão, é ligado às coisas do coração. Dessa forma, decidimos nos casar em Dachau.

A formiga mãe, com olhos que derramavam inveja, cumprimentou a cigarrinha que partia rumo a felicidade.

(Moral da história: No Brasil, o trabalho dignifica.. Dignifica... Dignifica o que mesmo?)


Cinthya Danielle dos Reis Leal

Texto 02


Bem brasileiro



Chapeuzinho Vermelho recebe um e-mail de sua mãe dizendo que a avó tinha acabado de ser operada: acabara de fazer uma lipo, colocou botox. Portanto, chapeuzinho deveria visitá-la.

Chapeuzinho decide levar sorvete para sua avó, aliás, sorvete diet, pois ela já é uma pessoa de idade, apesar de não admitir. Chapeuzinho resolveu, então, pegar o coletivo para ir ao hospital.



O problema é que seu ex-namorado Lobo, um sujeito barra pesada, ficou sabendo da história e resolveu se antecipar, pegando um moto-táxi. Logicamente, ele chegou antes, pois Chapéu teve de enfrentar um ônibus lotado e um trânsito infernal.

Ao chegar no hospital e se deparar com a velha, o lobo sacou seu trêsoitão e mandou chumbo na velha. Chapeuzinho havia acabado de chegar e assistiu aquela cena digna do Linha Direta. Tentou chamar a rádio patrulha, porém, a polícia estava em greve.


Então, num acesso de fúria, inspirada pelos filmes do Van Damme e Schwarzenegger, ela ataca o Lobo e o desarma.



No entanto, na luta, eles acabam se beijando apaixonadamente, pois se lembraram dos momentos maravilhosos que passaram juntos.



Depois, Chapéu se lembrou da vovó agonizante, mas para surpresa de todos, a velha sobreviveu graças a prótese de silicone, que alojou a bala. E então, todos viveram felizes até a conta do hospital chegar, já que a vovó não tinha plano de saúde.


Luis Felipe Silva

Élida Borges

1 período de Jornalismo


A carta aberta

A carta aberta é um gênero textual muito usado para incitar discussões e impelir o cidadão À conscientização de assuntos sociais que requerem mais cuidados; é também um meio de se manifestar e se protestar; desta forma a carta aberta se tornou um tipo de texto fundamental e muito útil nas sociedades democráticas.
Abaixo seguem- se duas cartas abertas; observe a estrutura e a organização de ideias nesse gênero textual:


Texto 01:

CARTA ABERTA DE ARTISTAS BRASILEIROS SOBRE A DEVASTAÇÃO DA AMAZÔNIA

Acabamos de comemorar o menor desmatamento da Floresta Amazônica dos últimos três anos: 17 mil quilômetros quadrados. É quase a metade da Holanda. Da área total já desmatamos 16%, o equivalente a duas vezes a Alemanha e três Estados de São Paulo. Não há motivo para comemorações. A Amazônia não é o pulmão do mundo, mas presta serviços ambientais importantíssimos ao Brasil e ao Planeta. Essa vastidão verde que se estende por mais de cinco milhões de quilômetros quadrados é um lençol térmico engendrado pela natureza para que os raios solares não atinjam o solo, propiciando a vida da mais exuberante floresta da terra e auxiliando na regulação da temperatura do Planeta.

Depois de tombada na sua pujança, estuprada por madeireiros sem escrúpulos, ateiam fogo às suas vestes de esmeralda abrindo passagem aos forasteiros que a humilham ao semear capim e soja nas cinzas de castanheiras centenárias. Apesar do extraordinário esforço de implantarmos unidades de conservação como alternativas de desenvolvimento sustentável, a devastação continua. Mesmo depois do sangue de Chico Mendes ter selado o pacto de harmonia homem/natureza, entre seringueiros e indígenas, mesmo depois da aliança dos povos da floresta “pelo direito de manter nossas florestas em pé, porque delas dependemos para viver”, mesmo depois de inúmeras sagas cheias de heroísmo, morte e paixão pela Amazônia, a devastação continua.

Como no passado, enxergamos a Floresta como um obstáculo ao progresso, como área a ser vencida e conquistada. Um imenso estoque de terras a se tornarem pastos pouco produtivos, campos de soja e espécies vegetais para combustíveis alternativos ou então uma fonte inesgotável de madeira, peixe, ouro, minerais e energia elétrica. Continuamos um povo irresponsável. O desmatamento e o incêndio são o símbolo da nossa incapacidade de compreender a delicadeza e a instabilidade do ecossistema amazônico e como tratá-lo.

Um país que tem 165.000 km2 de área desflorestada, abandonada ou semi-abandonada, pode dobrar a sua produção de grãos sem a necessidade de derrubar uma única árvore. É urgente que nos tornemos responsáveis pelo gerenciamento do que resta dos nossos valiosos recursos naturais.

Portanto, a nosso ver, como único procedimento cabível para desacelerar os efeitos quase irreversíveis da devastação, segundo o que determina o § 4º, do Artigo 225 da Constituição Federal, onde se lê:

"A Floresta Amazônica é patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais"

Assim, deve-se implementar em níveis Federal, Estadual e Municipal A INTERRUPÇÃO IMEDIATA DO DESMATAMENTO DA FLORESTA AMAZÔNICA. JÁ!
É hora de enxergarmos nossas árvores como monumentos de nossa cultura e história.

SOMOS UM POVO DA FLORESTA!

Fonte: http://www.amazoniaparasempre.com.br/



Texto 02


Carta aberta ao novo Ministro da Educação


Prezado Sr. Ministro!


No momento em que redijo estas linhas, não conheço o nome de quem foi escolhido para a pasta da Educação. Isto, porém, pouco importa. Não escrevo para aprovar ou criticar quem ocupará esse cargo no novo governo.

Esta carta foi escrita para o senhor, seja o senhor quem for, com o intuito de dizer-lhe que - venha de que partido vier, tenha sido de alguma universidade reitor ou diretor - um atributo, sim, não poderá lhe faltar: o de ter pela educação um profundo, um radical amor.

Não serei seu assessor, Sr. Ministro, mas exerço uma função dentro do seu ministério muito mais importante que qualquer outra. Eu sou, talvez também como o senhor, um professor.

E todos os problemas da educação oferecida em âmbito municipal, estadual ou federal (em instituições públicas ou particulares) são problemas que, se (é bem verdade) referem-se a questões de ordem sócio-econômico-familiar, no próprio âmbito escolar radicam e, em particular, na figura, na pessoa de cada professor.

Uma escola pode até não ter computador (e deve ter muitos, sim, senhor!), mas jamais poderá prescindir de um atualizado professor.

Uma escola pode até não ter aquela merenda do outro mundo (e deve ter, farta, variada e preparada com primor!), mas jamais poderá prescindir de um substancial professor.

Uma escola pode até não dispor de biblioteca (e deve dispor, não é nenhum favor!), mas jamais poderá prescindir de um professor que seja um apaixonado leitor.

Uma escola pode não ter quadra de futebol (e deve ter, nem preciso ser torcedor!), mas jamais poderá prescindir de um professor que saiba driblar as dificuldades, vestir a camisa, enfim, um profissional, e não um amador.

No frio ou no calor, precisamos ter nas salas de aula um professor pessoalmente comprometido com a tarefa que lhe foi confiada.

Contudo, esse professor não se improvisa, Sr. Ministro.

Esse professor deve ser ouvido e não mais emudecido por estatísticas que, no final das contas, são negadas pela verdadeira realidade.

Esse professor deve ser escolhido e orientado para que saiba vencer desobediências, carências e violências, com plena consciência do que pode fazer.

E, sobretudo, esse professor deve ser valorizado de maneira bem concreta, com salário digno, com respeito, com autoridade, com tudo aquilo que faça dele um revolucionário, um inventor, um sábio, um ator.

Gabriel Perissé
Autor do recém-publicado livro O professor do futuro (Thex Editora)
Matéria Publicada no site http://www.webamigos.net, em 18 de dez. 2002.
Matéria publicada em 01/01/2003 - Edição Número 41


Fonte: http://kplus.cosmo.com.br/materia.asp?co=78&rv=Colunistas

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Doença Crônica

E aí, galera, tudo bem. Estou lançando dois textos para pensarmos um pouquinho, sobre um mal que assola nossa sociedade: a corupção. São duas crônicas muito boas que descobri nas minhas andanças pela internet: Só de Sacanagem, de Elisa Lucinda e O Cancêr e a Corrupção, de Simone Pessoa. Vamos relfetir um pouco sobre a corrupção e suas origens. Quem sabe assim não dewcobrimos futuramente uma formula, ou uma vacina para ese mal, do qual tantas pessoas têm padecido. Boa leitura.


Só de sacanagem



Meu coração está aos pulos!

Quantas vezes minha esperança será posta à prova?

Por quantas provas terá ela que passar? Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu, do nosso dinheiro que reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós, para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.

Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova?

Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?

É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.

Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam: "Não roubarás", "Devolva o lápis do coleguinha", "Esse apontador não é seu, minha filha". Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar.

Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar e sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará. Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda vou ficar.

Só de sacanagem! Dirão: "Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo mundo rouba" e vou dizer: "Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau."

Dirão: "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal". Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal. Eu repito, ouviram? Imortal! Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final!

Elisa Lucinda


O câncer e a corrupção

O câncer e a corrupção

Simone Pessoa, colunista da revista eletrônica O povo Online


Quem já ouviu falar sobre como o câncer atua no corpo humano, sabe que as células cancerígenas têm uma capacidade enorme de se multiplicar geometricamente, suplantando as células sadias. Elas se equipam e desenvolvem mecanismos sofisticados e secretos para ludibriar os dispositivos de defesa do organismo. Enganam numa astúcia fantástica: emitem mensagens falsas aos glóbulos brancos, criam proteínas mutantes que se passam por boazinhas e, enquanto isso, se estruturam para deter fontes próprias que as alimentam, direcionando vasos sangüíneos exclusivos para nutri-las. Nesse estágio inicial, os demais órgãos do corpo não chegam a perceber o perigo que os ronda. Quando vêm a fazê-lo, o arsenal do exército cancerígeno já está tão bem preparado para a guerra que, combatê-lo, torna-se uma luta desigual.

Assim funciona a dinâmica da corrupção em nossa sociedade. Anomalias que surgem em pontos imprevisíveis, e que silenciosamente conspiram com tamanha argúcia que nem nos damos conta no começo. Chegamos até a sentir lampejos de sinais, mas camuflam-se de tal forma que nos tornam inábeis para detectar os sintomas nesse estágio. Assim, vão se alastrando e tomando corpo em nosso tecido social. Aparelham-se com estruturas exclusivas, apossam-se de órgãos vitais.

Uma nota fiscal não emitida é corrupção implícita. Se não exigida, é conivência. Um espertalhão que compra um oficial de justiça já é corrupção explícita. Um funcionário público que desvia dinheiro para suas contas particulares é peixe pequeno? Um juiz que pede propina em troca de um parecer conveniente é peixe grande. Um político que define seu preço para apoiar um projeto nocivo é um tubarão.


Uma vez instalada a corrupção nos mais recônditos cantos do organismo social, a coisa fica mais difícil. Faz-se necessário que todo o exército não contaminado se insurja para enfrentar a metástase. A luta é inglória... E quanto mais o tempo passa, menos chances temos. Desmontar essa complexa engrenagem não é tarefa para poucos arautos. Cada cidadão tem que entrar nessa guerra. Não há espaço para dispensas ou deserções. Todos, absolutamente todos, têm que lutar! E a batalha é no dia-a-dia, no corpo-a-corpo, num simples gesto.

Nessas eleições, nosso voto sozinho não irá sanar a doença da corrupção, mas, pelo menos, é a arma que temos, no momento, mais afiada para espetar as baleias assassinas que se camuflam de pingüins para se eleger.