Taís Luso de Carvalho
Fico a olhar a geração dos meus filhos, dou uma espiada na geração dos meus pais, mas fico na minha. Embora em esferas diferentes, os traumas, medos e incertezas continuam. De tudo um pouco: algumas coisas mudaram pra melhor e outras pra pior.
As pessoas não mudaram: a quantidade das atrocidades, sim. Fui uma criança que pude brincar na rua, subir em árvores, brincar com bonecas, brincar de armazém... Brincar. Fui criança. E que bom que tive infância.
Hoje, já adulta, vejo que as coisas continuam as mesmas: crimes? A diferença é que hoje somos ‘bem informados’: sabemos quem são, onde estão, o que roubam e pra onde levam; ninguém engana mais ninguém. É uma nova etapa: tudo está na Internet, esmiuçado, repetido milhões de vezes e com muitos internautas interagindo. Em minutos sabemos de tudo.
Guerras? O mundo está globalizado e sabemos a hora do primeiro míssil disparado. E ainda podemos ver a destruição que causou. Parece mentira, mas eu nunca imaginei que, sentada num sofá e tomando um cafezinho, assistiria pela televisão a morte de milhares de pessoas, cidades destruídas, ditador sendo enforcado, e seu último suspiro filmado. E tudo rodado um milhão de vezes na Internet.
Quando iríamos ver a hora ‘agá’ do terror nas ‘torres gêmeas’ e receber o passo a passo de tal tragédia?
Nunca imaginei que veria crianças de 12 anos assaltando, ‘ficando’ e se drogando. Nunca imaginei que veria tanta coisa! Acho que ainda não me acostumei a viver por aqui...
Da mesma forma não me acostumo a ver velhinhos doentes apanhando de adultos que são pagos para cuidá-los; não me acostumo a ver gente sendo torturada; não me acostumo a ver crianças ou fetos jogados em latas de lixo; não me acostumo a ver animais sendo maltratados; não me acostumo à maldade humana. E também fiz força para entender, mas não consigo me acostumar com as crianças dessa geração. Elas brincam? Ahãaa! E como.
Um baita computador, com mil jogos atiçando mais violência ou sexo explícito pra ficarem olhando e aprendendo, rapidinho, que sexo é uma coisa e que amor não conta muito. A bagunça é grande. Está todo mundo com muita pressa: pressa em fazer e desfazer. Sei lá...
O fotolog e orkut vieram para facilitar a exposição na tal ‘comunidade’, onde todos ficam sabendo da vida de todos. É interatividade demais.
Lembro da máquina mecânica; depois ficamos todos deslumbrados quando chegou a máquina elétrica; e por fim, caímos de costas com a chegada da máquina eletrônica, o maior barato! Nem imaginávamos que teríamos um figurão desses - computador -, onde baixamos programas que fazem tudo, falamos com pessoas do outro lado do mundo, on-line, e ficamos com a certeza de que nada mais é impossível para o homem. Talvez arrumar o que está desordenado: sentimentos.
A gente só vai ter de se acostumar com uma linguagem que anda pela Internet quase indecifrável e horrorosa, com muitas abreviações estranhas. Mas pior do que isso foi um concurso literário de contos na categoria ‘linguagem da Internet’.
E ainda estão pensando em fazer uma reforma na nossa língua... Não precisa, a reforma tá indo de vento em popa!
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