quarta-feira, 5 de agosto de 2009

O câncer e a corrupção

O câncer e a corrupção

Simone Pessoa, colunista da revista eletrônica O povo Online


Quem já ouviu falar sobre como o câncer atua no corpo humano, sabe que as células cancerígenas têm uma capacidade enorme de se multiplicar geometricamente, suplantando as células sadias. Elas se equipam e desenvolvem mecanismos sofisticados e secretos para ludibriar os dispositivos de defesa do organismo. Enganam numa astúcia fantástica: emitem mensagens falsas aos glóbulos brancos, criam proteínas mutantes que se passam por boazinhas e, enquanto isso, se estruturam para deter fontes próprias que as alimentam, direcionando vasos sangüíneos exclusivos para nutri-las. Nesse estágio inicial, os demais órgãos do corpo não chegam a perceber o perigo que os ronda. Quando vêm a fazê-lo, o arsenal do exército cancerígeno já está tão bem preparado para a guerra que, combatê-lo, torna-se uma luta desigual.

Assim funciona a dinâmica da corrupção em nossa sociedade. Anomalias que surgem em pontos imprevisíveis, e que silenciosamente conspiram com tamanha argúcia que nem nos damos conta no começo. Chegamos até a sentir lampejos de sinais, mas camuflam-se de tal forma que nos tornam inábeis para detectar os sintomas nesse estágio. Assim, vão se alastrando e tomando corpo em nosso tecido social. Aparelham-se com estruturas exclusivas, apossam-se de órgãos vitais.

Uma nota fiscal não emitida é corrupção implícita. Se não exigida, é conivência. Um espertalhão que compra um oficial de justiça já é corrupção explícita. Um funcionário público que desvia dinheiro para suas contas particulares é peixe pequeno? Um juiz que pede propina em troca de um parecer conveniente é peixe grande. Um político que define seu preço para apoiar um projeto nocivo é um tubarão.


Uma vez instalada a corrupção nos mais recônditos cantos do organismo social, a coisa fica mais difícil. Faz-se necessário que todo o exército não contaminado se insurja para enfrentar a metástase. A luta é inglória... E quanto mais o tempo passa, menos chances temos. Desmontar essa complexa engrenagem não é tarefa para poucos arautos. Cada cidadão tem que entrar nessa guerra. Não há espaço para dispensas ou deserções. Todos, absolutamente todos, têm que lutar! E a batalha é no dia-a-dia, no corpo-a-corpo, num simples gesto.

Nessas eleições, nosso voto sozinho não irá sanar a doença da corrupção, mas, pelo menos, é a arma que temos, no momento, mais afiada para espetar as baleias assassinas que se camuflam de pingüins para se eleger.

Nenhum comentário:

Postar um comentário